quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Sinto a insegurança!

SINTO A INSEGURANÇA

Por Luciano Pierre

Se formos falar de segurança no Rio, primeiro temos que reconhecer ou denominar quem a faz: se é a polícia, o tráfico, a milícia ou se cada um faz a de si mesmo comprando uma arma. Ao longo dos anos, vamos vendo a violência crescer debaixo dos nossos narizes, sob o olhar calmo dos mais favorecidos e sob o olhar tenso dos menos favorecidos.
Quem mora na Zona sul, vive como quem nunca vai passar por isso. Quem mora na favela, vive como ator de um filme de terror, podendo, no máximo, escolher ser apenas figurante ou protagonista. Quem vive na Zona sul, em sobrados altamente mobiliados e carrões importados na garagem, por alguns minutos, dias, meses e até anos esquece que as maiores favelas estão ao lado. Quem vive na favela, sabe que ao lado estão as maravilhas do mundo, mas acima, a nuvem do descaso.
Vivemos, nessa semana, mais uma barbárie: ver uma criança de seis anos ser morta da maneira que foi. Ficamos chocados e o pior é que talvez ela não seja a última no Rio e no Brasil; aliás, chocados já nem é mais a palavra correta porque assim ficamos no massacre da Baixada, na chacina da Candelária, na chacina de Vigário Geral, nos atentados promovidos pelo tráfico, na criação da milícia, na descoberta da banda podre, no tiroteio em Ipanema, no assassinato do Detonauta... De fato já nem temos mais palavras para tais atos, estamos parecendo uma cartilha, colecionando vocábulos com significados ruins, em que:
Milícia = opressão / Comando = domínio do tráfico / Sinal vermelho = perigo / Vias expressas = medo / Sair à noite = risco / Pontos turísticos = pequenos furtos / Carioca brasileiro = indefeso.
Assim somos expostos à morte todos os dias, desde a hora em que acordamos até a que acordamos de novo. Por isso digo favela e não comunidade carente; carentes todos somos, desde a mãe do menino até a mãe da próxima vitima. O pobre é carente de oportunidade e o rico é carente de segurança. Somos filhos sem pai, apanhando na rua, na escola, dos mais poderosos e ninguém nos defende. Corremos para casa, para a delegacia, para o tribunal e não encontramos ninguém.
Comunidade sim, sofrida, mas sem a essência, porque comunidade está relacionada à união, o que não somos desde o impeachment, incapazes de reagir, de novamente ir às ruas, se preciso.
Até quando? Até quando vamos aceitar isso? Até que os políticos nos ajudem? Até que Deus seja por todos? A violência não começa em Oswaldo Cruz e acaba em Piedade, não começa na favela e termina na Zona Sul, não começa do lado de fora e termina do lado de dentro do portão da milícia, não começa no meu pai e termina no seu filho. Ela começa na Assembléia Legislativa, passa pela Câmara dos Deputados, pelo Palácio Guanabara e continua em Brasília.
A Bíblia fala que nos últimos dias haveria guerras e rumores de guerras. Pai contra filho, nação contra nação, irmão contra irmão, pessoas se dizendo deuses, aumento de doenças incuráveis, prostituição, etc., além de dizer que o amor de muitos se esfriaria. Nada diferente dos nossos dias, talvez ela esteja se cumprindo. Será que ainda nos resta muito tempo? Será que ainda resta tempo para o Rio de Janeiro? Agüentaremos até as próximas eleições? A dúvida se resumirá apenas no sinal amarelo? E quando ele abrir, será que estaremos vivos? Se estivermos, oremos por esta família, por esta mãe que viu seu filho percorrer um caminho cruel, que queira Deus não seja percorrido por mim e por você.
Temos o hábito de dizer “Ai meu Deus!”, “Vixi Maria”, “Tá amarrado!”, “Jesus de Nazaré!”. Até nas nossas cédulas está escrito “Deus seja louvado”, mas, hábitos e religiosidades à parte, este seria um bom momento para dizer “Deus, eu te elejo, tome o controle, nos ajude!”.

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